“Nós valorizamos demasiadamente o que sabemos em detrimento daquilo que não temos conhecimento”
N.N. Taleb
Precisamos deixar uma coisa bem clara: entre nosso conhecimento médico atual e o desfecho que queremos para nosso, há um enorme abismo deixado por anamnese e exame físico por vezes falhos, limitados, difíceis ou até mesmo impossíveis de serem realizados, como em pacientes entubados ou com rebaixamento do nível de consciência e propedêuticas de laboratório e imagem demoradas, falhas que não de forma incomum chegam tarde demais, quando chegam…
Aceitar essa nossa limitação técnica é o primeiro passo para entendermos que nosso arsenal propedêutico precisa ser melhorado e otimizado para oferecermos ao nosso paciente o que ele precisa, no momento em que ele mais precisa: um diagnóstico e terapêutica acurados, rápidos e seguros e uma tomada de conduta que alivie sofrimento, mude desfechos e salve vidas.
E se você ainda está em dúvida sobre nossas limitações responda pra você mesmo se está preparado para:
-Avaliar com segurança o posicionamento do tubo endotraqueal durante a intubação;
-Realizar com acurácia o diagnostico diferencial de insuficiência respiratória aguda como no covid-19, DPOC, insuficiência cardíaca/congestão, sepse pulmonar, TEP, pneumotórax, entre outros;
-Realizar com segurança o diagnóstico diferencial de choque, seja ele distributivo ou obstrutivo, no paciente clínico ou no paciente politraumatizado,
-Realizar com assertividade o diagnostico dos “5Hs” e “5Ts” da Parada Cardiorrespiratória, durante o atendimento, claro…
-Realizar com acurácia o diagnostico diferencial de dor torácica e abdominal;
-Identificar sinais de Hipertensão Intracraniana no paciente com TCE ou rebaixamento do nível de consciência;
-Realizar um acesso venoso central na primeira tentativa, em menos de 10 segundos, minimizando o risco de hemopneumotorax…
Preciso agora te dizer que esses desafios podem e são superados diariamente em sala de emergência usando uma ferramenta de propedêutica e terapêutica nova em nosso meio, à beira leito e durante o atendimento ao paciente instável em sala de emergência, terapia intensiva e no pré-hospitalar.
A partir de agora você será apresentado a tudo que envolve essa propedêutica, no ambulatório, na enfermaria, no consultório, em sala de emergência, na terapia intensiva e no pré-hospitalar.
É uma propedêutica que está presente em guidelines e recomendações internacionais de consenso reconhecidos, mas você talvez nem saiba que ela exista e para que serve.
É uma propedêutica que já salvou centenas, talvez milhares de pacientes, uma propedêutica que eu, minha equipe e alunos utilizamos diariamente nos casos graves e também nos estáveis que atendemos e nos permitiu encarar um pai, um filho, uma mãe e dizer olhando olho no olho: salvamos teu pai, salvamos tua mãe. Salvamos teu filho.
Eu estou falando do exame de Ultrassonografia Point-of-Care ou POCUS, como ferramenta propedêutica e terapêutica a ser usada para realizar os diagnósticos mais difíceis e desafiadores, mudar desfechos e salvar vidas, mesmo que seja a vida de um único paciente, o paciente que tu estás atendendo, o teu paciente.
A Ultrassonografia de Emergência ou Point-of-Care Ultrassound (POCUS) é um exame de propedêutica médica para avaliação à beira do leito e em tempo real de pacientes em condições médicas agudas potencialmente fatais ou criticamente enfermos.
O exame POCUS apresenta as seguintes características:
- é indicado (propedêutica) pelo médico que presta o atendimento ao paciente no momento desta avaliação, do consultório médico, enfermaria, ambulatório, passando pela emergência, terapia intensiva e atendimento pré-hospitalar (APH);
- realizado por esse mesmo médico durante a avaliação do paciente e em conjunto com a anamnese e exame físicos;
- após interpretar as imagens geradas, sempre dentro do contexto clínico do paciente, é tomada uma conduta imediata e em tempo real, sem perda de tempo ou afastamento do paciente dos cuidados médicos.
Diferente de uma anamnese e exame físico realizado pelo médico emergencista que pode ser extremamente limitado pela condição clínica do paciente, como numa PCR, o exame POCUS é visto como um novo pilar da propedêutica médica em sala de emergência; esse exame supre um gap desta propedêutica inicial ao fornecer informações anatômicas, funcionais e fisiopatológicas do paciente, mesmo que este não consiga gerar informações através de uma anamnese, por exemplo.
Dentre as aplicações clássicas do exame POCUS podemos citar:
- Diagnóstico e Reanimação: uso do exame POCUS para diagnóstico, reanimação e ressuscitação de pacientes em insuficiência respiratória, com queixa de dor torácica para diagnóstico diferencial, estados de choque e PCR.
- Terapêutica e Monitorização: Uma vez que se tenha realizado um diagnóstico preciso através do uso do POCUS é possível direcionar terapêuticas e orientar esforços de forma objetiva, além de acompanhar em tempo real os resultados da terapêutica focada.
- Sinais e Sintomas: o exame POCUS está também indicado para avaliação de pacientes em ambientes de menor complexidade/gravidade para realização de diagnósticos com base em sinais e sintomas clínicos referidos pelo paciente: dor torácica, desconforto e dor abdominal/pélvica, dispnéia e graus variados de insuficiência respiratória e muito mais.
- Procedimentos Guiados: o exame POCUS é usado ainda para auxiliar e guiar procedimentos em tempo real em sala de emergência, aumentando a acurácia do procedimento, a segurança e confiabilidade do médico e a segurança do paciente; ainda permite reduzir custos institucionais e sociais.
Seja bem vindo ao Mundo POCUS.
Juliano Lima
Médico Emergencista
Criador do Método POCUS
Idealizador do LIMAS Protocol